Em carta dirigida a Lula, Trump ataca ações no STF sobre Bolsonaro e as gigantes das redes sociais
09/07/2025
(Foto: Reprodução) O presidente dos EUA impõe tarifas de 50% a todos os produtos brasileiros de exportação, apesar do superavit americano. Trump anuncia tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos do Brasil por razões ideológicas
O presidente americano, Donald Trump, deu início nesta quarta-feira (9) a uma fase sombria nas relações entre os Estados Unidos e o Brasil. Ele tornou pública uma carta dirigida ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que anuncia a aplicação de tarifas de importação de 50% sobre produtos brasileiros e por motivos ideológicos, como as ações no STF sobre Jair Bolsonaro e sobre as chamadas big techs.
De Washington, a correspondente Raquel Krähenbühl tem os detalhes. A divulgação dessa carta foi o terceiro ataque do governo americano ao julgamento de Jair Bolsonaro em um intervalo de um dia e meio. Na segunda-feira (7), Donald Trump já tinha criticado o julgamento e voltou ao assunto na noite de terça-feira (8).
Nesta terça-feira (8), Donald Trump saiu novamente em defesa de Jair Bolsonaro. Ele escreveu nas redes sociais:
“Deixem o grande ex-presidente do Brasil em paz. Caça às bruxas!”.
E republicou uma postagem de segunda-feira (7) em que dizia que Bolsonaro é alvo de perseguição e que o Brasil está fazendo algo terrível no tratamento dado ao ex-presidente.
Nesta quarta-feira (9) cedo, a embaixada dos Estados Unidos no Brasil divulgou uma nota:
“Jair Bolsonaro e sua família têm sido fortes parceiros dos Estados Unidos. A perseguição total contra ele, sua família e seus apoiadores é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil. Reforçamos a declaração do presidente Trump. Estamos acompanhando de perto a situação”.
Em seguida, o Itamaraty convocou o encarregado de negócios da embaixada americana, Gabriel Escobar, para prestar esclarecimentos.
Nesta quarta-feira (9) à tarde, em Washington, Trump disse que o Brasil receberia uma carta com uma nova tarifa, a exemplo de outros países que receberam avisos de sobretaxas na segunda-feira (7). O presidente americano afirmou:
“O Brasil não tem sido bom para nós, nada bom. Vamos divulgar um número do Brasil, acho que mais tarde ou amanhã de manhã”.
Algumas horas depois, publicou nas redes sociais a carta que enviou ao presidente Lula. A carta começou:
“A maneira como o Brasil tratou o ex-presidente Jair Bolsonaro é uma desgraça internacional”.
Ele se referiu ao julgamento no STF - Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito e afirmou:
“Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve terminar imediatamente”.
Carta de Trump: leia íntegra do texto, que alega motivos políticos e comerciais para tarifa de 50% Brasil
“Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro, que emitiu centenas de ordens de censura secretas e ilegais para plataformas de mídias sociais dos Estados Unidos, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e expulsão do mercado brasileiro de mídias sociais), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos e quaisquer produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais. Mercadorias redirecionadas para evitar esta tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta”.
Só então o texto entrou na questão comercial:
“Além disso, tivemos anos para discutir nossa relação comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco”.
Trump afirmou que, se o Brasil revidar com tarifas, os Estados Unidos vão responder com mais taxas.
O presidente pediu uma investigação pelo o que chamou de ataques às atividades comerciais digitais de empresas americanas. Para isso, Trump acionou uma lei que existe há 51 anos para apurar práticas comerciais que os Estados Unidos consideram desleais. O governo americano já usou essa lei para taxar produtos chineses.
Ao encerrar, o presidente disse que pode aumentar ou diminuir as tarifas se o Brasil desejar abrir o comércio aos Estados Unidos e eliminar barreiras aos produtos americanos.
Em carta dirigida a Lula, Trump ataca ações no STF sobre Bolsonaro e as gigantes das redes sociais
Jornal Nacional/ Reprodução
O Brasil não estava na mira de Donald Trump até o fim de semana. O país já compra mais dos Estados Unidos do que vende para lá. Tem um déficit na balança comercial com os americanos de US$ 253 milhões, segundo o balanço de 2024. Quando o presidente anunciou as tarifas para todos os países em abril de 2025, o Brasil tinha ficado com a menor taxa básica, de 10%, imposta às nações consideradas "não problemáticas". Agora, o Brasil está com a maior taxa de todos os países.
O deputado federal do PL, Eduardo Bolsonaro, está licenciado do mandato desde março e atualmente vive nos Estados Unidos. Ele mantém contato com parlamentares do Partido Republicano, de Donald Trump.
No fim de maio, Eduardo virou alvo de inquérito no STF - Supremo Tribunal Federal do Brasil pela suposta atuação dele nos Estados Unidos contra autoridades brasileiras. No pedido de abertura do inquérito, a Procuradoria-Geral da República declarou que Eduardo Bolsonaro afirmava que estava se dedicando a conseguir do governo americano a imposição de sanções contra integrantes do STF - Supremo Tribunal Federal, da PGR e da Polícia Federal, pelo o que considera ser uma perseguição política a ele e ao pai.
Nesta quarta-feira (9), o ministro Alexandre de Moraes prorrogou o inquérito.
A correspondente Raquel Krähenbühl apurou que, até domingo (7), o Brasil não estava na mira de Donald Trump, que o Brasil não era visto como um problema. Tudo começou a mudar depois da reunião do Brics, no Rio de Janeiro, neste fim de semana. O bloco criticou o aumento indiscriminado e unilateral de tarifas e defendeu, também, moedas locais em transações entre os integrantes do grupo. Trump, então, ameaçou tarifas aos países do bloco e a aliados. Lula respondeu e, horas depois, Trump passou a defender o ex-presidente Jair Bolsonaro - adversário do presidente brasileiro.
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